ARTIGO: Cidadãos de baixa renda e mulheres, a resistência eleitoral a Bolsonaro

Da Carta Capital*
Para chegar ao segundo turno, pré-candidato terá que trair as ideias de sua base eleitoral, apontam cientistas políticos.
Por Laura Castanho
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Bolsonaro interrompe discurso da deputada federal Maria do Rosário (PT) em 2016.
Bolsonaro tem quase 30% dos votos entre aqueles que recebem mais de 10 salários mínimos, mas apenas 11% entre aqueles com renda de até 1.908 reais. A parcela mais pobre do eleitorado tem forte identificação com o ex-presidente Lula, diz Guarnieri, e justamente por isso ele não poderia seguir se vendendo como antilulista. “Não vejo ele fazendo isso. Se fizer, os seus adversários vão explorar essa contradição.”
Já a baixa popularidade entre as mulheres se justificaria por atitudes controversas de Bolsonaro que foram altamente publicizada, como na circunstância em que agrediu a deputada Maria do Rosário (PT-RS).Ele afirmou à parlamentar petista que ela não merecia ser estuprada por ele.
Ainda que a taxa de rejeição das mulheres ao pré-candidato seja praticamente igual à dos homens (32% delas e 30% deles), 9% das mulheres entrevistadas declaram voto no deputado. Entre os homens, o índice chega a 22%.
Para conquistar esses dois públicos, segundo o professor, Bolsonaro teria de moderar seu discurso, “a exemplo de Alckmin, que não nega as contribuições sociais dos governos Lula”. “Como fazer isso sem decepcionar o eleitor mais radical?”, questiona.
Dúvidas à parte, o deputado sinaliza que pode seguir esse caminho. Nos últimos meses, se calou sobre questões que poderiam prejudicar a sua imagem — como o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), no Rio de Janeiro — e vem passando por treinamento para falar com a imprensa, segundo informou o site Poder360.
Eleitorado
Até outubro, a maior fonte de desidratação do candidato deverá ser o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que tem investido no discurso pró-segurança pública. “Bolsonaro divide com Alckmin os votos dos que tem preferência pelo PSDB. Seu eleitor tem perfil parecido com o de quem vota nos tucanos”, explica Guarnieri.

O perfil em questão englobaria os homens brancos de até 30 anos, com nível alto de renda e escolaridade. Entre os eleitores com renda superior a 10 salários mínimos (9.540 reais), ele chega a 29% das intenções de voto; dos que ganham até dois salários mínimos (1.908 reais), no entanto, fica em 11%. “Esse eleitor (mais rico) não é majoritário [no Brasil], e aí ele se esgota.”
Curiosamente, o perfil socioeconômico de quem diz rejeitar Bolsonaro é similar: 45% dos entrevistados com nível superior de ensino afirmaram que não votariam nele de jeito nenhum. Já 36% dos que estavam na faixa de renda mais alta disseram o mesmo.
Guarnieri explica: “Quanto mais conhecido é o candidato, mais passível ele é de rejeição. Aqui no Rio [estado pelo qual se elegeu], tem uma rejeição muito mais forte ao Bolsonaro pela maior presença dele.” Como é pouco conhecido no Nordeste, teria índice menor de rejeição nesses estados.
Mas o que pensa esse eleitorado? Um relatório elaborado pela professora Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a partir de entrevistas com simpatizantes de Bolsonaro de diferente origens, aponta que ele prospera na convergência direitista entre a segurança pública baseadas em punição e o discurso anticorrupção.
“São pessoas fundamentalmente conservadoras, com uma rejeição muito grande ao avanço dos movimentos feminista, negro e LGBT. Preconizam muito os valores cristãos, da família, da ordem, da autoridade, da hierarquia, e por isso se sentem ameaçados [por esses avanços]”, afirma Solano. “Ele é de extrema direita e reproduz discurso de ódio, mas se apresenta com uma linguagem muito juvenil nas redes sociais.”
A pesquisadora aponta que, nas entrevistas, ninguém reconhecia o discurso de ódio nas falas do pré-candidato. No máximo, algumas das mulheres com quem conversou demonstraram incômodo com o que chamaram de “reação excessiva”.
A cientista política Helcimara Telles, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), enquadra o público de Bolsonaro no crescimento mundial da chamada direita alternativa, associada à vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas e na saída do Reino Unido da União Europeia, ambos em 2016.
No Brasil, essa concepção da direita seria formada a partir de grupos locais, online, identitários e nacionalistas, dirigidos a pessoas de maior escolaridade e que levariam a liberdade de expressão ao extremo. Segundo Telles, pesquisadora do tema, a masculinidade seria um componente igualmente forte. “Você encontra muito mais homens do que mulheres nesses movimentos. É por isso que no Brasil eles são embalados no discurso da ‘ideologia de gênero’”, diz.
Apesar disso, Telles vê na segurança o maior espaço para que o deputado conquiste eleitores de baixa renda, que “sentem a morte na pele”. “O Bolsonaro expressa essa falta de conexão institucional com a sociedade. Mesmo não ganhando, sua candidatura diz muito sobre a crise da democracia.”
Bolsonaro tem quase 30% dos votos entre aqueles que recebem mais de 10 salários mínimos, mas apenas 11% entre aqueles com renda de até 1.908 reais. A parcela mais pobre do eleitorado tem forte identificação com o ex-presidente Lula, diz Guarnieri, e justamente por isso ele não poderia seguir se vendendo como antilulista. “Não vejo ele fazendo isso. Se fizer, os seus adversários vão explorar essa contradição.”
Já a baixa popularidade entre as mulheres se justificaria por atitudes controversas de Bolsonaro que foram altamente publicizada, como na circunstância em que agrediu a deputada Maria do Rosário (PT-RS).Ele afirmou à parlamentar petista que ela não merecia ser estuprada por ele.
Ainda que a taxa de rejeição das mulheres ao pré-candidato seja praticamente igual à dos homens (32% delas e 30% deles), 9% das mulheres entrevistadas declaram voto no deputado. Entre os homens, o índice chega a 22%.
Para conquistar esses dois públicos, segundo o professor, Bolsonaro teria de moderar seu discurso, “a exemplo de Alckmin, que não nega as contribuições sociais dos governos Lula”. “Como fazer isso sem decepcionar o eleitor mais radical?”, questiona.
Dúvidas à parte, o deputado sinaliza que pode seguir esse caminho. Nos últimos meses, se calou sobre questões que poderiam prejudicar a sua imagem — como o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), no Rio de Janeiro — e vem passando por treinamento para falar com a imprensa, segundo informou o site Poder360.
Eleitorado
Até outubro, a maior fonte de desidratação do candidato deverá ser o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que tem investido no discurso pró-segurança pública. “Bolsonaro divide com Alckmin os votos dos que tem preferência pelo PSDB. Seu eleitor tem perfil parecido com o de quem vota nos tucanos”, explica Guarnieri.

O perfil em questão englobaria os homens brancos de até 30 anos, com nível alto de renda e escolaridade. Entre os eleitores com renda superior a 10 salários mínimos (9.540 reais), ele chega a 29% das intenções de voto; dos que ganham até dois salários mínimos (1.908 reais), no entanto, fica em 11%. “Esse eleitor (mais rico) não é majoritário [no Brasil], e aí ele se esgota.”
Curiosamente, o perfil socioeconômico de quem diz rejeitar Bolsonaro é similar: 45% dos entrevistados com nível superior de ensino afirmaram que não votariam nele de jeito nenhum. Já 36% dos que estavam na faixa de renda mais alta disseram o mesmo.
Guarnieri explica: “Quanto mais conhecido é o candidato, mais passível ele é de rejeição. Aqui no Rio [estado pelo qual se elegeu], tem uma rejeição muito mais forte ao Bolsonaro pela maior presença dele.” Como é pouco conhecido no Nordeste, teria índice menor de rejeição nesses estados.
Mas o que pensa esse eleitorado? Um relatório elaborado pela professora Esther Solano, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a partir de entrevistas com simpatizantes de Bolsonaro de diferente origens, aponta que ele prospera na convergência direitista entre a segurança pública baseadas em punição e o discurso anticorrupção.
“São pessoas fundamentalmente conservadoras, com uma rejeição muito grande ao avanço dos movimentos feminista, negro e LGBT. Preconizam muito os valores cristãos, da família, da ordem, da autoridade, da hierarquia, e por isso se sentem ameaçados [por esses avanços]”, afirma Solano. “Ele é de extrema direita e reproduz discurso de ódio, mas se apresenta com uma linguagem muito juvenil nas redes sociais.”
A pesquisadora aponta que, nas entrevistas, ninguém reconhecia o discurso de ódio nas falas do pré-candidato. No máximo, algumas das mulheres com quem conversou demonstraram incômodo com o que chamaram de “reação excessiva”.
A cientista política Helcimara Telles, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), enquadra o público de Bolsonaro no crescimento mundial da chamada direita alternativa, associada à vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas e na saída do Reino Unido da União Europeia, ambos em 2016.
No Brasil, essa concepção da direita seria formada a partir de grupos locais, online, identitários e nacionalistas, dirigidos a pessoas de maior escolaridade e que levariam a liberdade de expressão ao extremo. Segundo Telles, pesquisadora do tema, a masculinidade seria um componente igualmente forte. “Você encontra muito mais homens do que mulheres nesses movimentos. É por isso que no Brasil eles são embalados no discurso da ‘ideologia de gênero’”, diz.
Apesar disso, Telles vê na segurança o maior espaço para que o deputado conquiste eleitores de baixa renda, que “sentem a morte na pele”. “O Bolsonaro expressa essa falta de conexão institucional com a sociedade. Mesmo não ganhando, sua candidatura diz muito sobre a crise da democracia.”

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