A revolta dos Malês e a luta na atualidade.


Por: Douglas Arantes*

A revolta dos Malês pode ser compreendida como um conflito que deflagrou oposição contra duas práticas comuns herdadas do sistema colonial português: a escravidão e a intolerância religiosa. Comandada por negros de orientação religiosa islâmica, conhecidos como malês, o termo "malê" tem origem na palavra imalê, que significa "muçulmano" no idioma Iorubá. Essa revolta ainda foi resultado do desmando político e da miséria econômica do período regencial.

Anos antes da revolta, as autoridades policiais tinham proibido qualquer tipo de manifestação religiosa em Salvador. Logo depois, a mesquita da “Vitória” – reduto dos negros muçulmanos – foi destruída e dois importantes chefes religiosos da região foram presos pelas autoridades. Dessa maneira, os malês começaram a arquitetar um motim programado para o dia 25 de janeiro de 1835.

Com o deslocamento do eixo econômico-admininstrativo do Brasil para a região sudeste e as constantes crises da economia açucareira, a sociedade baiana do período tornou-se um sinônimo de atraso econômico e desigualdade socioeconômica. Além desses fatores, devemos também destacar que as prescrições religiosas incentivadas pelas autoridades locais promoveram a mobilização desse grupo étnico-religioso específico.

Mesmo prevendo todos os passos da rebelião, o movimento não conseguiu se instaurar conforme o planejado. A delação feita por dois negros libertos acionou um conflito entre as tropas imperiais e os negros malês. Sem contar com as mesmas condições das forças repressoras do Império, o movimento foi controlado e seus envolvidos punidos de forma diversa. Apesar de não alcançar o triunfo esperado, a Revolta dos Malês abalou as elites baianas mediante a possibilidade de uma revolta geral dos escravos.

A Revolta do Malês, portanto, se insere no contexto das revoltas sociais do Brasil Imperial, demonstrando a insatisfação do povo com a situação política e econômica e, no caso específico, a perseguição e falta de liberdade religiosa no Brasil durante o Império.


A população negra no Brasil vive atualmente um tempo desafiador. Além da luta pela sobrevivência, a superação do racismo, do atraso social, econômico e político.  Muitos de nós temos que encarar o desrespeito e a intolerância em relação a suas formas mais diversas de expressar a fé. Sabemos que as religiões de matrizes africanas, como o candomblé e a umbanda, são frequentemente alvo de preconceito e seus frequentadores e adeptos sofrem cotidianamente com agressões e ataques físicos e simbólicos contra seus símbolos e casas institucionais de culto, popularmente conhecidas como casa de santo/axé, roça ou terreiros.

É importante frisar que o processo de escravidão e, logo depois,o racismo no Brasil, são ferramentas estruturantes para a manutenção dos privilégios de uma minoria, rica e branca, que domina a disputa hegemônica no país. O resultado dessa força opressora estruturada e organizada na sociedade usa equivocadamente a religião (quase sempre cristã) como justificativa para demonizar as divindades cultuadas pelos povos de matrizes africanas. 

                              Águas de Oxalá é uma festa anual em homenagem a Oxalá,  Oxalá - Oxalufã

Uma mudança estrutural da educação na sociedade brasileira podemos trazer resultados efetivos quando o assunto é igualdade racial e religiosa. Infelizmente, não podemos afirmar que já tivemos os mesmos avanços das políticas públicas. Porém, nos resta resistir e lutar para que todo povo brasileiro, tenha garantida a efetivação dos seus direitos.
Fonte: https://www.geledes.org.br/racismo-religioso-e-o-retrato-da-intolerancia-no-brasil/
Douglas Arantes* Carioca,24 anos,Casado,Fotojornalista,Comunista Ativista pela legalização,e colunista do Blog Formigueiro.

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